16 argumentos que mostram que Cristo não morreu pela salvação de todos os homens
Por John Owen
1. Dois argumentos baseados na natureza do novo concerto
Argumento 1 - Em Mateus 26:28 o Senhor Jesus Cristo fala de "o meu sangue, o sangue do Novo Testamento". Este novo "testamento", ou "concerto" é um novo acordo, ou contrato, que Deus fez para salvar os homens. O sangue de Cristo derramado em Sua morte, é o preço desse acordo, e diz respeito somente àqueles a quem o acordo se aplica.
Este
novo acordo, ou aliança, é diferente do velho acordo que Deus fez com
os homens. Pelo velho acordo (ou concerto) Deus prometeu salvar todos os
que guardassem as Suas leis: "o homem que fizer estas coisas viverá por elas".
(Romanos 10:5; Levítico 18:5). Mas, em razão dos homens serem
pecadores, eles não podem guardar as leis de Deus. Portanto, o velho
acordo ficou sem efeito.
No novo acordo, Deus promete colocar Suas leis em nossas mentes e escrevê-las em
nossos corações (Hebreus 8:10). É claro, então, que esse acordo diz
respeito somente àqueles em cujos corações e mentes Deus realmente faz
isso. Desde que Deus, obviamente, não faz isso para todos os homens, todos os homens não podem estar incluídos no acordo pelo qual Cristo morreu.
Alguns
têm sugerido que Deus iria escrever Sua lei em nossas mentes se apenas
crêssemos. Mas, fé é a mesma coisa que ter a lei de Deus escrita em
nossos corações!
Então,
falar como alguns, significa dizer: "se a lei está em nossos corações
(isto é, como ela é, em todos os crentes), Deus promete que Ele irá
escrever Sua lei em nossos corações" - o que é uma tolice! A natureza do novo concerto deixa claro que a morte de Cristo não foi por todos os homens.
Argumento 2 - O evangelho - em outras palavras, as novas sobre o novo concerto - tem
estado no mundo desde os tempos de Cristo. Contudo, nações inteiras têm
vivido sem qualquer conhecimento dele. Se o objetivo da morte de Cristo
era salvar todos os homens, sob a condição de que eles cressem, então o
evangelho devia ter sido anunciado a todos os homens.
Se Deus não providenciou para que todos os homens ouvissem o evangelho, então, ou deveria ser possível que todos os homens fossem salvos sem fé e sem conhecimento do
evangelho, ou o propósito de salvar todos os homens falhou, uma vez que
nem todos os homens ouviram o evangelho. A primeira afirmativa não pode
ser verdadeira, pois a fé é uma parte da salvação (ver Parte Dois,
capítulo cinco). A última afirmativa também não pode ser verdadeira;
seria próprio da sabedoria de Deus enviar Cristo para morrer a fim de
que todos os homens fossem salvos, sem, contudo, certificar-Se de que
todos os homens ouvissem o evangelho? Seria a benignidade de Deus
demonstrada através de tal comportamento?
Isso seria como se um médico dissesse que tem um remédio que curaria a doença de todos. E, no entanto, escondesse, deliberadamente, tal conhecimento de muitas pessoas. Poderíamos realmente argumentar, nesse caso, que o médico pretendia, genuinamente, curar a doença de todos?
Há muitos versículos bíblicos que deixam claro que milhões jamais ouviram uma palavra sobre Cristo. E não podemos apresentar outra razão para isso, senão a razão que o próprio Jesus deu: "Sim, ó Pai, porque assim te aprouve".
(Mateus 11:26). Tais versículos como Salmo 147: 19-20; Atos 14: 16;
Atos 16: 6-7; confirmam os fatos de nossa experiência comum de que o
Senhor não tomou qualquer providência para assegurar que todos ouvissem o
evangelho. Precisamos concluir que não é propósito de Deus salvar todos
os homens.
2. Três argumentos baseados nas descrições bíblicas da salvação
Argumento 3 - As Escrituras descrevem o que Jesus Cristo obteve com Sua morte como
"redenção eterna" (isto é, nossa libertação do pecado, da morte e do
inferno, para sempre). Ora, se esta bênção foi comprada para todos os
homens, então todos os homens têm esta redenção eterna automaticamente;
ou ela está à disposição de todos os homens na dependência do
cumprimento de certas condições.
De acordo com nossa experiência, não é verdade, de maneira alguma, que todos os homens têm redenção eterna. Portanto, seria a redenção eterna disponível sob certas condições?
Pergunto, Cristo satisfez essas condições por nós, ou apenas nos tornamos merecedores do cumprimento dessas condições se outras condições forem cumpridas por nós? A primeira dessas afirmativas - que Cristo realmente cumpriu todas as condições necessárias quanto ao dom da redenção eterna - significa que todos os homens têm realmente essa redenção; o que, como já temos visto, não concorda com nossa experiência
a respeito dos homens! Temos que dizer, portanto, que se Cristo não
cumpriu as condições para que todos os homens obtivessem a redenção, Ele
deveria ter cumprido essas condições apenas por aqueles que cumpririam
outras condições. Estamos agora andando em círculos, fazendo com que
aquelas condições que foram cumpridas dependam de que outras condições sejam cumpridas! Estes argumentos demonstram quão irracional é supor que Cristo morreu a fim de obter a salvação eterna para todos os homens.
Se insiste ainda que a redenção eterna é obtida sob o cumprimento de certas condições,
então, todos os homens deveriam ser notificados. Mas, esse conhecimento
lhes tem sido sonegado, como vimos na Terceira Parte, capítulo um.
Além disso, se a obtenção da redenção eterna depende do homem cumprir condições, então ou eles têm ou não têm o poder para fazer isso. Se são capazes por si mesmos de cumprir
as condições necessárias, então temos que dizer que todos os homens
podem, por si mesmos, crer no evangelho. Mas isto é bastante contrário
às Escrituras, as quais mostram que os homens estão mortos em pecado e,
portanto, não podem cumprir quaisquer condições.
Se concordamos que os homens não podem, por si mesmos, cumprir as condições para
a obtenção da salvação eterna, então, ou Deus intenta dar-lhes esta
habilidade, ou não. Se Ele realmente intenta isto, então, por que não o
faz? Assim, todos os homens seriam salvos.
Se, entretanto, Deus não pretende dar a todos os homens a capacidade de crer, e, contudo, Cristo morreu para que todos os homens tenham a salvação eterna, então, Deus está requerendo dos homens que tenham habilidades as quais Ele recusa dar-lhes. Isto não seria uma loucura? É como se Deus prometesse dar a um homem morto o poder de vivificar-se a si mesmo, mas ao mesmo tempo não tenha a intenção de lhe dar o poder prometido!
Argumento 4 - A Bíblia descreve cuidadosamente aqueles pelos quais Cristo morreu. Lemos que toda a raça humana pode ser dividida em dois grupos, e que Cristo morreu apenas por um desses grupos.
Os versículos bíblicos que mostram que Deus dividiu os homens em dois grupos são:
Jo. 17:9, 1Ts. 5:9
Rom. 9:11-23
Daí aprendemos que há aqueles a quem Deus ama, e aqueles a quem Ele odeia; aqueles a quem Ele conhece, e aqueles a quem Ele não conhece.
Outros versículos deixam claro que Cristo morreu apenas por um destes dois grupos. É-nos dito que Ele morreu por:
Suas ovelhas - Jo. 10:11,14
Sua igreja - At. 20:28
Seus eleitos - Rom. 8:32-34
Seus filhos - Heb. 2:13
Acaso não deveríamos concluir, de tudo isso, que Cristo nã morreu por aqueles que não são Seu povo, ou Suas ovelhas, ou Sua Igreja? Ele não pode, portanto, ter morrido por todos os homens.
Argumento 5 - Não devemos descrever a salvação de nenhuma maneira diferente daquela
que a Bíblia a descreve. E a Bíblia não diz, em lugar algum, que Cristo
morreu "por todos os homens", ou por cada homem em particular. Ela diz
que Cristo deu Sua vida "em resgate de todos"; entretanto, isso não pode
provar que signifique mais que "todas as Suas ovelhas" ou "todos os
Seus eleitos". Se estudarmos cuidadosamente qualquer versículo que
emprega a palavra "todos" e o examinarmos em seu contexto, logo
estaremos convencidos de que, em lugar algum, as Escrituras dizem que
Cristo morreu por todos os homens, sem exceção de nenhum.
(Na Quarta Parte, capítulos três e quatro, vamos considerar, detalhadamente, muitos versículos bíblicos nos quais as palavras "mundo" e "todos" são usadas em conexão com a morte de Cristo.)
3. Dois argumentos baseados na natureza da obra de Cristo
Argumento 6 - Há muitos versículos bíblicos que falam do Senhor Jesus Cristo tornando-Se responsável por outros na Sua morte; por exemplo:
Foi feito maldição por nós - Gál. 3:13
Foi feito pecado por nós - 2Co. 5:21
Ora, se Ele morreu em lugar de outros, segue-se que todos aqueles cujo lugar Ele tomou devem estar agora livres da ira e do julgamento de Deus. (Deus não pode punir justamente
Cristo e aqueles a quem Ele substituiu!) Contudo, está claro que nem
todos os homens estão livres da ira de Deus (ver João 3:36). Portanto,
Cristo não pode ter sido o substituto de todos os homens.
Se insiste ainda que Cristo realmente morreu como um substituto de todos os
homens,
então devemos concluir que Sua morte não foi um sacrifício bastante
suficiente, pois nem todos os homens são salvos do pecado e do
julgamento!
De fato, se Cristo realmente morreu em lugar de todos os homens, então, ou Ele Se ofereceu
a Si mesmo como um sacrifício por todos os pecados deles (neste caso,
todos os homens são salvos), ou foi um sacrifício por alguns dos pecados
deles apenas (neste caso, ninguém é salvo, pois alguns pecados
permanecem). Nem uma nem outra dessas declarações pode ser verdadeira,
como nós já temos visto neste livro (Primeira Parte, capítulo três). Deve ser evidente que não podemos dizer, de maneira alguma, que Cristo morreu por todos os homens.
Argumento 7 - As Escrituras descrevem a natureza da obra que Cristo realizou, como a obra de um mediador e de um sacerdote:
Ele "é Mediador dum novo Testamento" (Hebreus 9:15). Ele age como um mediador sendo o sacerdote daqueles que Ele leva a Deus. Que Jesus Cristo não é o sacerdote de todos é óbvio, tanto pela experiência como pelas Escrituras; nós já discutimos isso na Segunda Parte, capítulo dois.
4. Três argumentos baseados na natureza da santidade e da fé
Argumento 8 - Se a morte de Cristo é o meio pelo qual aqueles por quem Ele morreu
são purificados do pecado e são santificados, então Ele deve ter
morrido somente por aqueles que realmente estão limpos de pecados e
santificados. É óbvio que nem todos os homens são santificados.
Portanto, Cristo não morreu por todos os homens.
Talvez eu deva provar que a morte de Cristo é, de fato, o meio para obter a purificação e a santidade. Vou fazer isso de duas maneiras:
Primeira, o padrão de adoração do Velho Testamento destinava-se a ensinar verdades a respeito da morte de Cristo. O sangue dos sacrifícios do Velho Testamento fez com que aqueles por quem era derramado se tornassem adoradores aceitáveis a Deus. Se foi assim, quanto mais o sangue de Cristo deve realmente purificar do pecado aqueles por quem Ele morreu? (Hebreus 9: 13-14).
Segunda, há versículos bíblicos que declaram com clareza que a morte de Cristo faz realmente as coisas que ela intencionava fazer; o corpo do pecado é destruído, para que não mais sirvamos ao pecado (Romanos 6:6); temos redenção através do Seu sangue (Colossenses 1: 14); Ele Se deu a Si mesmo para nos remir e nos purificar (Tito
2: 14). Estes versículos, e muitos outros, enfatizam que a santidade é o
resultado certo nas vidas daqueles por quem Cristo morreu. Visto que
todos os homens não são santos, Cristo não morreu por todos os homens.
Alguns sugerem - inutilmente! - que a morte de Cristo não é a única causa dessa santidade. Dizem que ela somente se torna verdadeira ou real quando o Espírito Santo a traz, ou quando é recebida por fé. Mas a obra do Espírito Santo, e o dom da fé, são também o resultado ou o fruto da morte de Cristo! Assim sendo, essa sugestão não altera o fato que a verdadeira santidade é o resultado certo somente nas vidas daqueles por quem Cristo morreu. O fato do juiz dar permissão ao carcereiro para destrancar a porta da prisão, não é a causa do prisioneiro ser posto em liberdade; a causa é que alguém pagou seus débitos por ele.
Argumento 9 - A fé é essencial à salvação. Isso é claro nas Escrituras (Hebreus 11:6) e a maioria das pessoas aceita o fato. Mas, como já temos visto, tudo que é necessário para a salvação foi obtido para nós por Cristo.
Ora, se esta fé essencial é obtida para todos os homens por Cristo, então é nossa com ou sem certas condições. Se é sem condições, então todos os homens a têm. Mas isso é contrário à experiência, e também às Escrituras (2 Tessalonicenses 3:2). Se a fé é dada somente sob certas condições, então eu pergunto: sob que condições?
Alguns dizem que a fé é dada sob a condição de que nós não resistamos à graça
de Deus. Contudo, não resistir significa, realmente, obedecer. Obedecer
significa crer. Portanto, o que estes amigos realmente estão dizendo é:
"a fé é concedida somente àqueles que crêem" (isto é, àqueles que têm
fé!). Isso é completamente absurdo.
Por outro lado, alguns argumentam que a fé não é obtida para nós pela morte de Cristo. Então, seria a fé um ato de nossa própria vontade? Mas isso é bastante contrário àquilo que muitos versículos bíblicos ensinam, e ignora o fato de que os incrédulos estão mortos em pecados, incapazes de realizar qualquer ato espiritual (I Coríntios 2:14). Portanto, volto à posição de que a fé é obtida por Cristo.
A fé é uma parte essencial da santidade. No Argumento 8, mostrei que a santidade é obtida para nós pela morte de Cristo. Portanto, Ele também obteve a fé para nós. Negar isso é dizer que Ele obteve apenas uma santidade parcial, isto é, uma fé deficiente. Ninguém sugere isso seriamente. Mais ainda, Deus escolheu Seu povo, como nos é dito, a fim de que ele fosse santo; Deus "nos elegeu ... para que fôssemos santos" (Efésios 1 :4). Repetindo, a fé é uma parte essencial da santidade. Ao eleger Seu povo para ser santo, necessariamente Deus decidiu que ele teria fé.
Era parte do pacto entre Deus, o Pai, e Deus, o Filho, que todos aqueles por quem Cristo morreu tivessem as bênçãos que o Pai tencionava dar-lhes. A fé é uma das bênçãos que o Pai dá (Hebreus 8:10,11).
As Escrituras afirmam claramente que a fé é obtida para nós por Jesus Cristo, que é "o autor e consumador da fé" (Hebreus 12:2). Declarações como esta e as declarações dos três parágrafos acima, que acabamos de ler, confirmam, todas elas, que a morte de Cristo obtém fé para Seu povo. Visto que não são todos os homens que a têm, Cristo não pode ter morri do por todos os homens.
Argumento 10
- O povo de Israel era, de muitas maneiras, uma espécie de ilustração
da Igreja de Deus do Novo Testamento (I Coríntios 10:11). Seus
sacerdotes e sacrifícios eram exemplos daquilo que Jesus viria fazer pela Igreja de Deus. Jerusalém, a cidade deles, é usada como uma figura do céu do crente (Hebreus 12:22).
Um verdadeiro israelita é um crente (João 1:47) e um verdadeiro crente é um israelita (Gálatas 3:29). Portanto, eu argumento da seguinte maneira:
Se a nação dos judeus foi escolhida por Deus, entre todas as nações do mundo, para ilustrar
Suas relações com a Igreja, segue-se, então, que a morte de Cristo foi
somente pela Igreja e não pelo. mundo todo. A maneira como Deus tratou o
Seu povo escolhido no Velho Testamento é uma ilustração de que a
salvação obtida por Cristo não é para todos os homens, mas é apenas para
o Seu povo escolhido.
5. Um argumento baseado no significado da palavra "redenção"
Argumento 11 - A maneira como a Bíblia descreve uma doutrina deve nos ajudar a entender a doutrina. Uma palavra bíblica que é usada para descrever a salvação obtida por Cristo é a palavra redenção. Exemplo: " ...temos a redenção pelo seu sangue" (Colossenses 1:14). Essa palavra significa "libertar uma pessoa do cativeiro através do pagamento de um preço". A pessoa não está redimida a não ser que seja libertada. Por isso, a própria palavra nos ensina que Cristo não pode ter obtido a redenção para aqueles que não estão livres. A redenção universal (assim chamada!) que finalmente deixa alguns ainda no cativeiro é uma contradição de termos.
O
sangue de Cristo é realmente chamado de preço, e de resgate, em alguns
versículos bíblicos (vide Mateus 20:28). Ora, o propósito de um resgate é
obter a libertação daqueles pelos quais o preço é pago. É inconcebível
que um resgate seja pago e a pessoa ainda continue prisioneira. Por conseguinte, como pode ser argumentado que Cristo morreu por todos os homens, quando nem todos os homens são salvos? Somente os que estão realmente livres do pecado podem ser aqueles por quem Cristo morreu. "Redenção" não pode ser "universal", como "romano" não pode ser "católico"! A redenção tem que ser particular, visto que somente alguns são redimidos.
6. Um argumento baseado no significado da palavra “reconciliação"
Argumento 12 - Uma outra palavra que a Bíblia usa para descrever aquilo que
Cristo obteve mediante Sua morte, é a palavra reconciliação: "...inimigos... vos reconciliou." (Colossenses 1:21). Reconciliação quer dizer restaurar as relações de amizade entre duas partes que anteriormente eram inimigas. Na salvação, da qual a Bíblia nos fala, Deus é reconciliado conosco e nós somos reconciliados com Deus.
Estas duas coisas têm que ser verdadeiras; a reconciliação de uma parte e da outra são dois atos separados, mas ambos são necessários para tornar uma reconciliação completa.
É uma tolice sugerir que Deus, por intermédio da morte de Cristo, agora
está reconciliado com todos os homens, mas que somente alguns homens
estão reconciliados com Ele. Espero que ninguém sugira que Deus e todos os homens estão reconciliados desta maneira. Isso seria uma reconciliação capenga! Não há verdadeira reconciliação a menos que ambas as partes estejam reconciliadas uma com a outra.
O efeito da morte de Cristo foi a reconciliação tanto de Deus com os homens como os homens com Deus; "fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho" (Romanos 5:10) e "nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação." (Romanos 5:11). Ambas as reconciliações são, também, mencionadas em II Coríntios 5:19-20 - "Deus ... reconciliando consigo", e "vos reconcilieis com Deus".
Ora, como esta dupla reconciliação pode ser "reconciliada" com a noção de que
a morte de Cristo é para todos os homens, eu não posso entender! Porque, se todos os homens são, pela morte de Cristo, assim duplamente reconciliados, como pode acontecer que a ira de Deus esteja sobre alguns? (João 3:36). Sem dúvida alguma, Cristo somente pode ter morri do por aqueles que estão realmente reconciliados.
7. Um argumento baseado no significado da palavra " satisfação"
Argumento 13 - E verdade que a palavra satisfação não é usada na versão inglesa
da Bíblia, com referência à morte de Cristo. Mas, aquilo que a palavra
significa, isto é, "um pagamento total daquilo que é devido a um credor
por um devedor" é um pensamento frequentemente usado no Novo Testamento,
quando se refere à morte de Cristo.
Em
nosso caso, os homens são devedores a Deus, pois falharam em obedecer
aos Seus mandamentos. A satisfação requerida para pagar nosso pecado é a
morte - "o salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23). As leis de Deus nos acusam, expressando a justiça e a verdade de Deus. Perante elas estamos convictos de que somos seus transgressores, merecendo, portanto, morrer. A salvação só é possível se Cristo pagar nosso débito e, assim, satisfazer a justiça de Deus. Sua morte é chamada de uma "oferta" (Efésios 5:2) e de "propiciação" (l João 2:2). A palavra oferta significa um sacrifício de expiação ou um sacrifício para fazer reparação devido o pecado.
Propiciação significa uma oferta para satisfazer a justiça ofendida. Dessa forma, podemos usar corretamente a palavra satisfação para abranger todo o ensino bíblico quanto ao significado da morte de Cristo.
Ora, se Cristo pela Sua morte realmente fez uma satisfação por alguns, então Deus precisa
agora estar completamente satisfeito com eles. Deus não pode requerer
licitamente um segundo pagamento de qualquer espécie. Então, como pode
ser que Cristo tenha morrido por todos os homens e ainda muitos vivam e
morram como pecadores sob a condenação da lei de Deus? Reconciliem essas
coisas aqueles que podem! Afirmo que somente os que estão realmente
livres do débito nesta vida podem ser aqueles pelos quais Cristo pagou a
satisfação.
8. Dois argumentos baseados no valor da morte de Cristo
Argumento 14 - O Novo Testamento fala, frequentemente, do valor da morte de Cristo, com a qual Ele pôde comprar e obter certas coisas. Exemplo: é dito que a redenção eterna é obtida "por seu próprio sangue" (Hebreus 9:12); é dito que a Igreja de Deus foi resgatada "com seu próprio sangue." (Atos 20:28); e os cristãos são chamados "povo adquirido" (I Pedro 2:9).
Cristo por Sua morte, então, comprou para todos aqueles por quem Ele morreu, todas
aquelas coisas que a Bíblia salienta como resultados de Sua morte. O
valor da Sua morte comprou a libertação do poder do pecado e da ira de
Deus, da morte e do poder do diabo, da maldição da lei e da culpa do
pecado. O valor da Sua morte obteve a reconciliação com Deus, paz e
redenção eterna. Estas coisas são agora dons gratuitos de Deus, porque
Cristo as comprou. Se Cristo morreu por todos os homens, por que então
todos os homens não têm essas coisas? Será que o valor da Sua morte não é
suficiente?
Será que
Deus é injusto por não dar a todos aquilo que Cristo comprou? Tem que
ser óbvio que Cristo não pode ter morrido para adquirir essas coisas
para todos os homens, e sim somente para aqueles que realmente desfrutam
delas.
Argumento 15 - Há frases que são frequentemente empregadas para se fazer referência à morte de Cristo, tais como: morrendo por nós; suportando nossos pecados; sendo nossa segurança.
O significado evidente de tais frases é que Cristo, em Sua morte, foi
um substituto de outros para que eles pudessem ser livres.
Se, em Sua morte, Cristo foi um substituto de outros. como podem eles mesmos morrerem também, carregando ainda seus próprios pecados? Assim sendo, Cristo não pode ter sido um substituto a favor deles. Daí, fica claro que Ele não pode ter morrido por todos os homens.
De fato, dizer que Cristo morreu por todos os homens é a maneira mais rápida de provar que Ele não morreu por ninguém. Porque se Ele morreu em lugar de todos, e, contudo, nem todos são salvos, então Ele falhou em Seu propósito.
9. Um argumento geral baseado em versículos específicos das Escrituras
Argumento 16 - Há um grande número de versículos bíblicos que eu poderia usar para argumentar que Cristo não morreu pelos pecados de todos os homens. Vou selecionar apenas nove, e, com eles, encerrar nossos argumentos nesta parte.
1. Gênesis 3: 15. Este é o primeiro versículo bíblico no qual Deus indica que há uma diferença entre o povo de Deus e seus inimigos. "...sua semente" (da mulher) significa Jesus Cristo e, portanto, também todos os crentes em Cristo. (Isto é claro a partir do fato de que a profecia sobre a semente da mulher é cumprida em Cristo e em Seu povo). "...tua semente" (da serpente) significa todos
os homens incrédulos do mundo (Vide João 8:44). Desde que Deus prometeu
somente inimizade entre a semente da serpente e a semente da mulher, é
óbvio que Cristo, a semente da mulher, não morreu pela semente da serpente!
2. Mateus 7:23. Cristo aqui declara que há pessoas que Ele jamais conheceu. Contudo, em outro lugar (João 10:14 a 17) Ele diz que conhece todo o Seu povo. Será que Ele não conhece todos aqueles por quem morreu? Se há alguns que Ele não conhece, então Ele não pode ter morrido por eles.
3. Mateus 11:25-27. Conforme estas palavras, é claro que há alguns dos quais Deus esconde o evangelho. Se é a vontade do Pai que o evangelho não seja revelado a eles, Cristo não pode ter morrido por eles. E nós devemos notar que Cristo, aqui, agradece ao Pai por fazer esta diferença entre homens - uma diferença que somente alguns homens ainda se recusam a acreditar!
4. João 10:11, 15-16, 27-28. Destes versículos fica bastante claro que:
I. Nem todos os homens são ovelhas de Cristo.
II. A diferença entre os homens um dia será óbvia.
III. As ovelhas de Cristo são identificadas como "aquelas que ouvem a voz de Cristo"; outros não a ouvem.
IV. Alguns que ainda não são identificados como ovelhas já estão escolhidos e se tornarão conhecidos ("outras ovelhas").
V. Cristo morreu, não por todos, mas especificamente por Suas ovelhas.
VI. Aqueles por quem Cristo morreu são os que Lhe foram dados pelo Pai. Ele não pode, então, ter morrido por aqueles que não Lhe foram dados.
5. Romanos 8:32-34. Destes versículos entendemos com clareza que a morte de Cristo pertence somente ao povo eleito de Deus e, também, que a intercessão de Cristo é somente em favor desse mesmo povo.
I. Nem todos os homens são ovelhas de Cristo.
II. A diferença entre os homens um dia será óbvia.
III. As ovelhas de Cristo são identificadas como "aquelas que ouvem a voz de Cristo"; outros não a ouvem.
IV. Alguns que ainda não são identificados como ovelhas já estão escolhidos e se tornarão conhecidos ("outras ovelhas").
V. Cristo morreu, não por todos, mas especificamente por Suas ovelhas.
VI. Aqueles por quem Cristo morreu são os que Lhe foram dados pelo Pai. Ele não pode, então, ter morrido por aqueles que não Lhe foram dados.
5. Romanos 8:32-34. Destes versículos entendemos com clareza que a morte de Cristo pertence somente ao povo eleito de Deus e, também, que a intercessão de Cristo é somente em favor desse mesmo povo.
6. Efésios 1: 7. A partir deste versículo, podemos dizer que se o sangue de Cristo foi derramado por todos, então todos devem ter esta redenção e este perdão. Mas, certamente, nem todas as pessoas os possuem.
7. II Coríntios 5:21. Portanto, em Sua morte Cristo foi feito pecado por todos aqueles que nEle foram feitos justiça de Deus. Se Ele foi feito pecado por todos, então, por que todos não são feitos justiça?
8. João 17:9. A intercessão de Cristo não é por todos os homens, e, portanto, nem a Sua morte o foi. (Ver Segunda Parte, capítulos quatro e cinco).
9. Efésios 5:25. Cristo ama a Igreja e isto é um exemplo de como um homem deve amar a sua esposa. Mas se Cristo amou outros tanto quanto a Sua Igreja, até ao ponto de morrer por eles, então os homens podem certamente amar outras mulheres além de suas esposas!
Pensei que poderia acrescentar outros argumentos - mas, considerando aquilo que já disse,
estou certo de que o que já foi argumentado é bastante para satisfazer
os que se satisfarão com argumentos; no entanto, aqueles que são
obstinados não se satisfarão ainda que eu inclua outros argumentos.
Portanto, encerro meus argumentos aqui
***
Fonte: John Owen, Por quem Cristo morreu, págs. 49-70. Editora PES - 1986.
Uma vez perguntei a Deus se Ele vai salvar a todos, Ele respondeu sim
ResponderExcluirArgumentos com fundamentação infundada. Não é paradoxal, é isso mesmo. Deus não escolheu este ou aquele, pois ele amou ao mundo. O texto dos calvinistas traduzido por escolheu, é na verdade no grego conheceu antecipadamente, prognoskos indica conhecer os que aceitarão, e os que rejeitarao o evangelho. Deus é onisciente.
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